segunda-feira, 23 de julho de 2007

Cães danados

Estava um belo dia de inverno na ponta do ouro, 25/26 graus de temperatura ambiente, 23/24 de temperatura da água. Depois de um belo dia de praia Jorge, Marta e Manel voltavam ao Motel do Mar para ver se Pico já tinha voltado ao reino dos acordados. Pico estava pronto a pagar, Jorge, Manel e Marta entregaram-lhe o devido e os quatro seguiram para a recepção.
O pagamento correu bem sendo necessário pouco mais de 15 minutos para que tudo estivesse resolvido. Quando os nossos 4 heróis se preparavam para partir, já com alguma saudade do seu refúgio de fim de semana, eis que reparam numa senhora americana horrorizada e a chorar compulsivamente. Pico, com a maturidade que os seus 25 anos lhe dão, dirige-se a um dos seguranças e questiona-o sobre a situação. Ninguém parece saber o que se passa, por isso Pico interpela a senhora americana que lhe explica o que se passou. É nesta altura que os 4 amigos reparam num jovem de ar taciturno e olhar ameaçador que os observa. É este o fuzileiro que a senhora americana teme.

Minutos antes, enquanto Marta lia uma revista e os seus três amigos tratavam das contas do motel, estava Trina (a senhora americana) sentada perto do mar quando dois cães vadios decidem juntar-se a ela. Trina, devido a todas as histórias de cães psicopatas que tinha ouvido durante a última semana, tentou afugentá-los, mas sem sucesso. Por ver que não valia a pena mandá-los embora, deixou-os estar por perto, fazendo com que qualquer pessoa que visse tal cenário pensasse que ela era a dona dos cães. Perto dali vagueava um jovem fuzileiro (Osvaldo Anjos de seu nome) que estava a gozar os seus 30 minutos livres com um passeio à beira mar. Sem razão aparente quando passa perto do cães, estes lançam-se contra ele. O maior, um rafeiro castanho, consegue mordê-lo, mas o fuzileiro com o sangue frio tão natural dos militares começa a atirar areia e os cães fogem. Na percepção do jovem Fuzileiro os cães afastaram-se não por causa da areia, mas sim por causa das súplicas de Trina para que parassem.

O fuzileiro ficou transtornado pelo acontecido, e pensando que os cães pertenciam a Trina, dirigiu-se a ela para que fosse com ele à polícia para ser responsabilizada pelos actos dos ferozes animais. Chegado ao pé dela o fuzileiro deu o que lhe pareceu ser um pequeno toque no braço, mas que a Trina pareceu um forte abanão que a assustou como nunca. Com medo, a frágil americana começou a dirigir-se para o seu abrigo, enquanto dizia que os cães não eram seus. Por seu turno, o jovem fuzileiro continuava a segui-la e a dizer-lhe que tinha de ir à polícia.

Quando Trina viu o restaurante do motel do mar não hesitou em entrar e pedir ajuda. Quem lá estava dentro indicou a recepção como o local para onde se deviam dirigir, e assim foi como se cruzaram com os nosso 4 amiguinhos.

Depois de cada um contar a sua visão da história, o recepcionista resolveu telefonar à polícia. O fuzileiro foi encaminhado para a clínica para receber tratamento, enquanto que Trina seguiu para a esquadra na companhia dos quatro. Entretanto foram chegando alguns fuzileiros e amigas de golfinhos (profissão das amigas de Trina). Os quatro amigos iam explicando a Trina e às amigas o que se estava a passar, e conversando com o superior do fuzileiro ferido que lhe explicava como se devia matar um cão com dois tiros. Nesta altura Pico sentiu-se nostalgico, uma vez que durante a tarde esteve a brincar com um dos cães sem saber que tinha menos de 24 horas de vida...

Quando chegou o fuzileiro do hospital iniciou-se um pequeno julgamento. A presidir estava o chefe Jaime. Para facilitar as coisas foi pedido a Jorge que traduzisse de português para inglês ou de inglês para português, conforme a situação. Como é seu costume, Jorge desempenhou esta tarefa na perfeição e até com um certo brilhantismo.

O pequeno julgamento começou com a versão dos factos do fuzileiro Anjos, seguido do relato por parte de Trina. Depois disto o chefe Jaime começou a balbuciar e o Comandante da polícia, experiente e sábio veio em seu auxilio. O seu discurso foi um discurso ponderado, com todas as palavras no sítio certo, fazendo excelentes analogias para que todos entendessem aquilo que ele queria a dizer. Neste discurso fez ver os presentes que os cães são racistas daí se terem sentado mansamente ao lado da senhora branca e atacado ferozmente o pobre fuzileiro negro, que não se pode responsabilizar alguém por actos de cães vadios, que um furo no estômago provocado por uma chave de parafusos é mais grave do que um inchaço na cara provocado por uma estalada e que os cães vadios da ponta do ouro não podiam se mortos pois os tiros assustavam os turistas. Conclui-se por fim que a ferida poderia ser tratada na clínica da Ponta do Ouro e que Trina não poderia ser responsabilisada.

Os quatro amigos seguiram para Maputo com a sensação de dever cumprido e bastante felizes e contentes sem fazer ideia do que lhes iria acontecer... Estavam eles a discutir se um cão pode ser racista e se uma fotocópia do passaporte autenticada é um documento de identificação válido para andar na rua, quando um poste de electricidade caiu em cima do seu carro e lhes ceifou a vida. Quanto a Trina Rasmunssen e a Osvaldo Anjos acabaram por se apaixonar e casar, sendo que Trina adoptou o nome do marido, chamando-se agora Trina R. Anjos.

NOTA: Os primeiros 7 parágrafos desta história são baseados em factos reais. O último parágrafo é baseado em factos imaginados.

1 comentário:

Anónimo disse...

gostava mais que os 4 amigos fossem afinal as 4 fadas madrinhas dos noivos